terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dakar voltou à África!

O todo poderoso Jimmy. A única máquina a concorrer.

Pois é meus amigos, após um interregno de um par de anos, eis que a prova rainha do todo o terreno regressa às origens. Só que ninguém ouviu falar disso, e apenas participaram dois concorrentes.
Eu e o Paulo!
O meu concorrente directo.


Eu tinha o Bruno como navegador. E o Paulo ia com o Félix e o Ambrósio.


Atingiram-se velocidades alucinantes!!
(em segunda, com as redutoras ligadas)


Tudo começou quando o Félix arranjou a casa da empresa que fica lá no Mussulo, e nós decidimos ir passar lá o fim-de-semana. É uma casota pré-fabricada, em que a empresa disponibiliza um empregado que nos faz tudo. Cozinha, limpa, arruma, faz lume. Vive-se à patrão!

Só que ir de barco para lá não tem a mínima piada... 5 minutos e já está (caminho a amarelo na foto abaixo). Não! Alguém lembrou-se de ser diferente.
Ilha do Mussulo
(Obrigado ao Bruno pelo trabalho. Ainda lhe vou roubar mais fotos e vídeos)

Como um de nós já tinha ouvido dizer, um certo dia, que alguém já tinha ido de jeep por terra (caminho a vermelho), que é um caminho só de areia solta e fofa, e que achava que era possível lá chegar por essa via, à última hora, como mandam as regras, mudança de planos!


Resumindo, ninguém sabia o caminho nem tinha ido lá antes por terra, eram mais ou menos 15h e faz noite escura às 18h00. Ninguém sabia a distância exacta até à casa. Ninguém sabia quanto tempo se levava. Ninguém sabia qual o melhor caminho. Ninguém sabia se havia algum trilho que não tinha saída. Nada! Só tinha meio depósito de gasolina para ir e vir, o que prontamente afirmaram com muita convicção "Meio depósito? Dá perfeitamente!". A minha experiência em condução na areia era nula, em todo terreno, a mesma coisa!

O que é que poderia correr mal nesta viagem?

Se ao menos tivéssemos algum sinal, que algo poderia correr mal...
Bom, como não tivemos qualquer tipo de sinal. Lá seguimos viagem todos alegres e contentes!
2 Jeeps Jimmys e 5 gajos, com 2 grades de cerveja e comida. Não nos faltava nada!


Então, sentido a pressão de estarmos com horário apertado, porque não podíamos apanhar a noite pelo caminho, sob o risco de nos perdermos, urgia despachar.
Por isso, pelo caminho paramos no tasco do costume para um cervejinha fresquinha. Há que definir prioridades!



Entretanto, acabamos por encontrar pessoal da empresa, que iam acampar numa zona no início do percurso, e que ficaram espantados por irmos assim, sem nunca termos feito o percurso, ou sem qualquer experiência.

"Já lá fui buscar uns quantos. Não vos vou buscar também."

Foram algumas das muitas conversas de encorajamento que nos dirigiram...

Entretanto, sugeriram-nos baixar a pressão dos pneus, e ajudaram-nos na tarefa, com um aparelho que lá tinham.

Mas claro que não precisavam de o fazer, porque obviamente que foi a primeira coisa em que nós pensamos... Ok?

Nós não somos assim tão inconscientes... O que é que julgam?
Afinal sempre trouxemos uma corda!

Paragem nas "boxes", para afinar a pressão dos pneus!

Ligamos as redutoras e lá arrancamos nós novamente!



Jimmy com as redutoras a cavar na areia solta. Claro que ficou atolado logo no arranque... Isso prometia!

Trilho de areia.

A perseguição

Sempre a "abrir"(dentro dos possíveis).



O cenário desértico que nos rodeava pelo percurso.

Pode-se dizer que este é o cenário ideal para nos perdermos.
Pensam vocês, é mesmo parvo, bastava telefonar para o outro.
Claro, e dizíamos, "Olha, estamos aqui, naquela estrada de areia. Tas a ver?"

Por isso, nós nos perdemos... Havia que dar alguma emoção à coisa. Passado alguns minutos, encotramo-nos não sei bem como, para passados 10 metros, atolarmos com o Jimmy a ir contra um banco de areia. Assim como que naufragar, estão a ver?


O reencontro emocionante. Chegaram-se a derramar lágrimas...


A escavar a areia por baixo do carro.

Com essas tretas todas, fez-se noite escura. Por meio de palmeiras, e barracas de alguns moradores, lá fomos nós à sorte a tentar dar com a casa. A alternativa era dormir no carro. E com o Bruno ao meu lado, não podia arriscar! Havia que encontrar a casa a todo o custo!

A visibilidade que tínhamos na última hora de viagem.

Apesar de nada dar a entender que poderiam acontecer, tivemos alguns percalços, mas lá chegamos à casa, e comemos e bebemos noite fora.

A praia à porta da casa. Foi acordar, arrastar-me por 4 metros, a muito custo, e deitar na areia. Valeu o esforço!

Na contra-costa (do lado do Atlântico).

O André e o Fernando trabalharam no sábado da tarde, por isso juntaram-se a nós no domingo.
Foram de barco... Mesmo meninos!


Eu sabia que ia correr qualquer coisa mal!
A merda da máquina avariou...
A última foto da minha máquina...

No regresso, a meio caminho acende a luz da reserva... Boa! Tendo em conta que com as redutoras 4x4 ligadas, o sacana do carro bebe gasolina mais rápido que a gaja que vimos lá no Mussulo bebeu uma lata de Cuca que roubou de outra gaja (é uma longa história...), fiquei realmente preocupado.
Mas só havia uma coisa a fazer: Seguir em frente sempre a fundo! Se não atolávamos.

Surpreendentemente, no regresso não houve ninguém atolou, nem a gasolina acabou. E a viagem correu às mil maravilhas.


Foi uma experiência altamente, daquelas que valem mesmo a pena passar, apesar de tudo, e que ficam para sempre marcadas. (que o digam o André e o Fernando que vieram à boleia no regresso, ainda devem ter mazelas da porrada que levaram no banco de trás.)


Por isso já sei.


Para a próxima vou de barco!

sábado, 3 de outubro de 2009

Não há palavras...

Estava a circular de carro alegre e contente, quando assim do nada, a realidade deste mundo cruel entra-me olhos dentro...

Dorme ali abrigado.


Ninguém que se considere um ser humano, consegue ficar indiferente a uma situação dessas.

E eu que, vá lá, até me considero uma pessoa sensível à miséria humana, obviamente que não fiquei...


Ver na varanda de uma casa de luxo num condomínio de gente rica, um jovem sem abrigo que dorme, envolto numa caixa de cartão, para se abrigar do frio que se faz sentir na noite gelada. O contraste era gritante.

Quando já estava a sacar de uns kuazas para dar ao moço. Parei.. pensei...


Espera...


Há qualquer coisa que não bate bem neste cenário...


Espera...


Quer dizer, estamos em Angola, e são 15h30... Não faz frio nenhum! Aliás até está um sol do caraças...


Espera...


Este não é um condomínio de luxo qualque, é a minha obra..


Espera...


Este gajo não é um sem abrigo... ele trabalha para nós!


Então?!?!


Não é que estávamos em plena hora de trabalho, e o sacana, possivelmente exausto do muito esforço que fez ao ver os outros a trabalhar, deita-se ali enrolado nuns cartões a ver se ninguém dava por ele.

Afinal podia ser que ninguém reparasse, e o confundissem com o cerâmico do pavimento...
Não sei, podia ser que tivesse sorte!


Após uns breves segundos em que quase, quase, quase, fui piegas, corri com o gajo da obra!


Enfim como dizem por cá,

"Estamos em Angola."