terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Blue é uma festa!



B - L .... U - E .... UEUE .... UEUE

Blue
é uma festa, Blue é uma festa é!



Isto a cima é uma das minhas memórias dos primeiros tempos de Luanda, e que me irá acompanhar por muitos anos.



Acabadinhos de chegar, ainda tresandávamos a "gasolinas", e nas longas horas que passávamos na carrinha de rádio ligado, éramos invadidos por uma musica que, à semelhança do Rap das Armas do filme Tropa de Elite, uma vez ouvida, não mais sai da cabeça o resto do dia.




A Blue, não é mais que uma marca de refrigerantes lançada em 2005 pela Refrigerango, com vários sabores, e que não sou grande fã. São muito doces e sabem muito artificial. Mas pode-se dizer que são um enorme sucesso aqui em Angola, que a par da Coca Cola e RedBull vendem que é um disparate.

E acredito que grande cota parte desse sucesso passa pela campanha de marketing levada a cabo pela empresa, associando a bebida Blue à festa e loucura. A Coca Cola também passa a imagem que é uma bebida ligada à diversão e à badalhoquice "Coca Cola dá força para tarrachar" é um dos versos da musica promocional que também ouvíamos na rádio, tipo lavagem cerebral.
Saiamos do carro e só queríamos beber Blue e Coca Cola...

E porquê esta mensagem agora, neste período natalício, no qual me encontro de regresso a casa, e nem devia sequer pensar em Angola?



Pois é... Voltou a praga... Agora vai ser o resto do dia a trautear... B-L-U-E... Porque??!?!?!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

I'm dreaming of a whtie Christmas


Natal típico
...

I'm dreaming of a white Christmas
Just like the ones I used to know
Where the treetops glisten,
and children listen
To hear sleigh bells in the snow


I'm dreaming of a white Christmas
With every Christmas card I write
May your days be merry and bright
And may all your Christmases be white


I'm dreaming of a white Christmas
With every Christmas card I write
May your days be merry and bright
And may all your Christmases be white


Natal em Angola...

A árvore a lembrar que chegou o natal.

Uma cena típica de natal.


Então?

Não repararam?


O pai natal está presente, enquanto se dá uns mergulhos para não assar ao sol.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Road Trip - Parte 4: O último dia

Amanheceu cedo, com o sol a bater nos vidros do carro, tornando aquele pequeno bólide branco num exemplo a pequena escala do aquecimento global, e já transpirava feito parvo (pois, o Al Gore disso não fala!), breves arrumações e lá arrancamos nós, claro que não sem antes de dar mais um mergulho nas águas escaldantes lá da Tacota.

Lá seguimos então para a Conda.

Agora com o sol a brilhar alto, era possível apreciar a paisagem que nos envolvia, e onde realmente estávamos, que no escuro da viagem de vinda era simplesmente impossível de perceber.
Estávamos mesmo por entre montanhas, bem lá no alto, por entre cumes e vales no meio do nada.


No topo das montanhas.

Mas aqui e ali encontrávamos uns povoações isoladas, uma cubata aqui e ali perdida, e alguns dos habitantes destas terras altas e desterradas. Para quem não sabe, as cubatas são casotas típicas, feitas com telhado de colmo, e nesse caso, com paredes em blocos de argila.

As cubatas lá ao longe.


Locais a verem o carro passar.

Finalmente tínhamos chegado ao município da Conda. Como podem constatar na foto abaixo, tirada na zona mais rural.

Sim, é um município!

A sede começava a apertar, e então, aproveitando estarmos num município, procuramos um tasco qualquer para comprar uma bebida fresquinha. Não sendo uma zona abundante no que diz respeito a tascos, vai-se lá saber porquê, tivemos que parar numa, digamos, espécie de tasco.
A única coisa que havia fresca lá era Fanta de ananás... (Eu e a minha má língua, já a falar mal, como eles fossem muito atrasados, mas até tinham fanta de ananás. Menos mal.)

Eis a garrafa, de mil novecentos e "trocó passo".

Bom, agora que falo nisso, lembrei-me que deveria ter verificado o prazo de validade... Mas que se lixe, soube pela vida, e até hoje não tive problemas do foro intestinal, nem recorri com frequência a instalações sanitárias. Pelo que acredito que estaria dentro do prazo.

Também não sei até porque me questiono sobre isso, o tasco não deixava azo para qualquer tipo de dúvida quanto à qualidade do produto.

O tasco!
(não, não é a casa verde, o tasco era a barraca em chapa que está do lado esquerdo.)

Uma prova mais que irrefutável de que os tugas por cá andaram, é o campo de jogos do CDDC, o Clube Desportivo da Conda.
Se há coisa que tuga faz mal chega a uma cidade/vila/povoação/aldeia/descampado, é fazer um campo de jogos ou estádio para jogar à bola e comer a bela da bifana com a "mini" enquanto chama nomes à progenitora do moço do apito.

O dito campo de jogos.

Mas a beleza da Conda não reside no seu relvado, ou nesse caso, é mais um pelado. É famosa por causa desta piscina de água quente, que não é amarela (como na minha terra), e também não é tão quente como as poças de Tacota, ali consegue-se não ser cozido, o que é positivo.


A piscina.

O Fernando antes de lhe roubarem os chinelos.


Como não podia deixar de ser, encontramos uns colegas da empresa a acampar ali ao lado da piscina. Os tugas estão mesmo em todo o lado...

Entretanto, enquanto nos banhávamos lá nas água morna, havia quem continuasse na rotina do seu dia a dia. Muitos dos casos certamente sem água corrente fria, quanto menos água quente, há que aproveitar para tirar as nódoas mais difíceis.
(Sim, toda a gente sabe que a água quente é usada para as nódoas piores. Mas também é preciso tomar cuidado para não encolher ou desbotar! Isso vindo de quem já não lava a sua roupa há mais de um ano...)

Fazem um colorido bonito.

A miudita a aprender.

Tirei essa foto ainda antes de saber que o Farmville existia. Juro!

A muito custo, lá saímos da água, já com os dedos engelhados, e seguimos viagem. No regresso, passamos por mais kimbos, e cubatas, montes e montanhas, árvores e bananeiras, terra e muita terra.
Aparentemente não tinha ninguém em casa.


À noite as Três Pontes confesso que por incrível que pareça tinham um aspecto ainda menos assustador... Sempre não conseguíamos olhar para baixo... Medo! Muito medo! E só de pensar que por ali passam camiões (para levar a fanta de ananás) e camionetas.
O rio que passava lá por baixo.

Pelo rio, o vento, e as nuvens deixava antever uma chuvada daquelas à maneira. E não falhou! Chuva e mais chuva, a cair forte, ajudada pelo vento, ainda fizeram cair uma ou outra árvore, uma delas mesmo em frente do carro dos nossos colegas que seguiam à nossa frente. E os que seguiam atrás de nós, contaram com a ajuda de locais com catanas para retirar um tronco que tapou-lhes o caminho.
Ainda foram uns bons 30 minutos de chuva intensa!

A chuva a estragar o negócio lá no mercado.


A linha a separar a zona da chuva e a zona seca, bem marcada na estrada.

Passado o temporal, estava na hora de acamar o estômago, e nada melhor que umas bananas que nos surgiram pelo caminho. 100kz (1€) deu para um cacho. Posso dizer que caíram que nem ginjas, ou nesse caso, bananas.

A bela da banana.

A observarem os pulas.
Nesses locais desterrados, temos que estar preparados para tudo, até para porcos a andar de bicicleta ou cabras a andar de mota. E se não se vê o primeiro, vê-se o segundo.

A cabra vai ao colo do gajo na mota.
(nde, a expressão "cabra ao colo do gajo" não tem qualquer outro sentido menos sério, estou mesmo a falar do bicho)

No meio de uma estrada já asfaltada, encontramos um mercado muito movimentado, e resolvemos parar para compras umas frutas. Eu fiquei-me pelas bananas. Sim, novamente. As outras já tinham acabado. Seguem umas fotos do mercado tiradas às pessoas e ao local.






Ainda passamos por umas quedas de água, mas não tinha mais bateria na máquina, e não tirei fotos. Quando arranjar ponho aqui. E quando tiver uma boa ligação à net (leia-se, não pré-histórica) ponho um filme ou dois do fim-de-semana.

E como não podia deixar de ser... Trânsito!
Duas horas para entrar em Luanda, no pára arranca... Depois de um fim-de-semana espectacular, esta merda estraga logo a disposição toda a um gajo! Mas vale a pena...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Road Trip - Parte 3: Em busca da Conda perdida

O que é que 7 homens sozinhos, solteiros (uns mais do que outros), e bons rapazes, mais procuram, num fim-de-semana que se quer de loucura?

Algo relaxante, agradável, quente, que não está ao alcance de todos, e que não existe mapa, difícil de lá entrar, mas depois já ninguém quer sair...

Isso, estamos todos a pensar no mesmo! Na Conda.

Já nos tinham falado desta coisa, aliás, dois de nós até afirmaram já lá ter ido. E então decidimos conscientemente mudar os nossos planos.
Novo percurso.

O problema de grandes viagens de carro aqui em Angola, passa sempre pela logística. O combustível num carro que faz 350km com um depósito, é sempre uma dificuldade, quando temos bombas espaçadas de 200km, e há sempre o risco de lá chegarmos e estar sem gasolina. Mas o que é a vida sem um pouco de risco?

Então, lá seguimos caminho, à procura da Conda.

Sabíamos que havia bomba em Porto Amboim, e surgiram rumores não confirmados de haver em Cabo Ledo, que era mais perto, por isso como seria de esperar decidimos ir para ao mais distante!

Porto Amboim lá ao longe.

Porto Amboím é uma cidade, ou vila, não sei bem, ou sabia mas já não me lembro, também não interessa muito, porque já estou a divagar sem qualquer interesse para o blog e para quem está a ler, isto se estiver alguém a ler ainda, depois de ter-me desviado assim tanto do assunto, pequena e pitoresca à beira mar, ainda muito caracterizada pelo estilo colonial, com as avenidas largas com árvores, e construção típica.


Avenidas e população de Porto Amboím.

Como acontece sempre que mal se saí de Luanda, as pessoas são muito mais simpáticas, e não estão logo a tentar arranjar um esquema para te sacar uns kzs. São simpáticas só porque sim!
Falavam com os pulas, se damos gorjeta, agradecem e não refilam "Chefe! Só?", eu quero acreditar que essa é que é a Angola real, Luanda é um caso à parte.
Então, a fome apertava, tinhamos comido às 6h, e já eram 13h, por isso paramos num tasco com lugares disponíveis, à beira da praia, para comer um belo de um bife!

Esplanada do... digamos... restaurante.
(quem vê a foto, nem parece ser o tasco tipo roulote, com mesas de plástico em que almoçamos...)

Após um bom repasto, o que há de melhor do que ir para o sol, de barriga para cima, torrar, arrastarmo-nos até à água quente, a muito custo, refrescar, voltar para a toalha, para o sol, torrar, mas agora de barriga para baixo? Nada!


Nós passávamos completamente despercebidos na praia de papo para o ar...

A boa vida não dura para sempre, por isso tínhamos que nos fazer à estrada, e tratar dos preparativos essenciais para a viagem. Em primeiro lugar havia que arranjar maneira de atestar o depósito. Só que em Angola, surgem sempre imprevistos, corremos alguns locais e não havia cerveja...

O pânico instalou-se!

Então para acalmar as ideias, resolvemos ir tratar dos aspectos secundários, e fomos por gasolina nos carros.

Não havia cerveja fresca no mercado de rua! E agora??!?!

Acabamos por encontrar uma barracazinha que tinha cerveja fresca, e lá compramos para encher a arca. Assim, resolvido o nosso principal problema, arrancamos que já se fazia noite.

Não foi fácil, darmos com a saída para o nosso destino intermédio, antes de ir à Conda, que eram as poças de água quente da Tacota.
Para ir a Conda é preciso passar pela Tacota!
(esta foto foi tirada já na manhã do outro dia)

Vai daí, andamos meio à nora, e fomos perguntando aos locais, que apanhávamos a cair de bêbedo pela estrada deserta.
Diziam-nos que era no 27.
"27... já sei, é no quilómetro 27, não é?"
Mas não, aparentemente a localidade ficava no quilómetro 16!
Então porquê o nome 27? Vai-se lá saber... Fazer mais como?

Finalmente demos com uma picada que descia à direita na estrada alcatroada. Benzemo-nos e viramos rumo à escuridão. Após uns bons minutos a andar sem saber se estávamos no caminho certo, resolvemos acreditar que sim, porque os dois carros que nos seguiam pensavam que dominávamos a coisa. E se eles acreditavam, nós também tinhamos que fazer o mesmo.
Até que chegamos às chamadas Três Pontes. Ou melhor, Uma Espécie de Três Pontes...

Uma ponte com muito bom aspecto, no meio da picada, na floresta densa na montanha. Perigoso? Lá nada!

Ao lado da ponte...
Havia que confiar na Apacominas. Certamente um grupo de excelentes profissionais.

Na dúvida se avançávamos ou não, parámos para debater o que fazer, de forma consciente e responsável:
Enquanto isso, bebia-se cerveja, para não ficarem quentes.

Em frente! Decidiu-se.

Finalmente lá chegamos... Tacota!

Montar tendas, para alguns, ajeitar o banco do Jimmy, para outros (eu... ), começar o braseiro, e preparar o jantar. Andar na letra com o segurança. Tudo isto, e ainda deu tempo para ir tomar uma banhoca, enquanto a brasa não estava no ponto.

Água a mais de 40º...
(sim, bem mais quente que as poças das Furnas)

Até queimava quando se punha os pés, imaginem lá o resto... Sim isso mesmo... Mas havia que insistir e ser mais teimoso que a dor! Afinal de contas éramos sete gajos e não um bando de meninas! Passado uns minutos, já estávamos assim meios cozidos e não sentíamos mais nada.
Com a água até ao pescoço, quase que adormecíamos ali...

Até que acordamos para a vida, se ninguém se levantar, a comida não se grelha sozinha.

O chouriço grelhado e as pernas cozidas lá atrás.
(sim, estão vermelhas da água)

Uns canitos assistiam ao nosso churrasco. Com aspecto muito inofensivo. Mas...

...à meia noite revelaram-se... Os sacanas disparavam raios pelos olhos!

Ainda houve tempo para estarmos num cenário tipo Vietman:
Nós debaixo de uma palhota, com neblina densa ao redor, vegetação tipo bananeira, e começou a cair uma chuva miudinha, os sapos a coaxar, e uns passarocos quaisquer para lá a fazer uns barulhos.
Embalados pelo som da floresta, do cansaço da viagem, e da cerveja, achei que eram horas de ir para a minha cadeira do Jimmy.

Só vos digo uma coisa... Acho que nunca dormi tão bem como nessa noite.

Mas certamente é uma experiência a não repetir.
(a não ser que tenha como alternativa pagar 60 usd por uma tenda)

Sonhei com a Conda a noite toda. Estava ansioso...
Será que era tão bom como dizem?