terça-feira, 30 de junho de 2009

Suínos


"Porco é a denominação vulgar dada às diferentes espécies de mamíferos bunodontes, artiodáctilos, não ruminantes a que pertence o porco doméstico."


Hoje sinto-me um porco!

Após 3 meses aqui em Angola, e depois de ouvir muitas histórias, eis que me saiu na rifa esta manhã.

Abro a torneira, e começo a ouvir uns sons estranhos... Nada de água... Espero... Espero...
Vou tomar o pequeno almoço sempre com a torneira aberta... Nada...

Bom, lá fui eu trabalhar!

És um porco imundo! Já dizia a canção...

PS: Só espero mesmo ter água quando chegar a casa agora...

sábado, 27 de junho de 2009

Tradições ancestrais...

Sendo Angola um país antigo, com uma matriz cultural muito enraizada, os costumes e tradições vão sendo transmitidos de geração em geração, absorvidos pelos mais novos, adaptando-se aos constrangimentos do mundo moderno.

Não deixa de ser curioso que, o casamento, um cerimónia tão marcante em qualquer cultura ou sociedade, tenha sido tão corrompido como aqui em Luanda.

O "alembamento" (penso que é assim que se escreve) ainda mantém-se bem vivo. Para quem não sabe, esta tradição é uma espécie de dote, mas ao contrário. O coitado do noive é que tem que entregar algo, indo desde cabazes a caixas de cerveja, ao pai da noiva para comprar, perdão, para ter a honra de ter a mão da sua filha em casamento.

O que me fascina é o ritual, muito caricato, que se repete com bastante frequência ao que parece. Ainda ontem, vimos 3 diferentes à hora do jantar!
Os noivos e convidadas, após o casório, deslocam-se ao Belas Shoping, onde passeiam-se pelos corredores, recebendo os parabéns de quem por lá passa.
Tiram fotos, tal como em qualquer parte do mundo, só que em vez de ser com flores e majestosos jardins como pano de fundo, têm direito ao cartaz dos Transformers, ou do Ice Age 3.


Não entendam isso como fazer pouco dessas pessoas. É que não existem jardins públicos, não existem espaços privados acessiveis.
Acho que isso tem uma explicação muito mais profunda, é simplesmente o facto de Luanda não ter condições para uma classe média.
Se formos para um sítio minimamente decente e pagam-se logo balúrdios, ou não há alternativas com condições. Desde as casas dos noivos serem pequenas, aos "tascos" que, enfim... Só mesmo os ricos é que podem ter bodas típicas. Os outros, que são a maioria, têm que se desenrascar...

Vendo bem, não há mesmo alternativa melhor, o Belas Shoping não se paga (além do parque), tem um aspecto limpo e arranjado, e é espaçoso! E assim se criam tradições.

Agora o que me deixa curioso é, para onde iam estas pessoas há dois anos atrás quando não havia Belas?


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Trabalho!

Ninguém me tinha avisado que vinha para cá trabalhar. Acho mal!

E eu que pensava que vinha passar uns tempos aqui a Angola... Afinal fui enganado...


Tem sido uma semana complicada, tenho tido pouco tempo disponível, por isso tenho escrito menos. Certo é que a rotina começa a surgir e os assuntos escasseiam, ou sou eu que estou menos aberto às novidades e à observação do que me rodeia.

Mais mensagens para breve!

PS: Parabéns ao Renato e ao Joaozinho, atrasados! Mas também eu estou em Angola, e por aqui não há lá muitas pressas... São ritmos diferentes.

sábado, 20 de junho de 2009

Monotonia

Apercebi-me que Angola é muita propicia à monotonia.

Não me refiro a momentos em que não temos o que fazer, ou a todos os dias serem iguais.
Porque Angola é uma verdadeira caixinha de surpresas, nunca se deve dizer que já vimos de tudo, há sempre alguém que ainda nos consegue fazer pensar, "Mas que merda é esta?!?!".
O certo é que com o passar do tempo, muitas coisas inicialmente estranhas já são filtradas e assumimo-las como normais de tão frequentes que são.

Neste país, ao contrário do nosso Portugal, o clima varia pouco. Só existem 2 estações, por assim dizer. O verão e a época do cacimbo. Por estranho que pareça, é no verão que chove.

Verão, começa a meio de Agosto e acaba a meio de Maio. Temperaturas constantes de 30s e tais, e uma humidade absurda. O sol é uma constante todo o santo dia.

Já no Cacimbo faz, digamos, frio. As temperaturas rondam os 26º durante o dia, à noite fica mais fresquinho, podendo chegar aos 23º. Por isso é altura de por as mantas na cama!
O cacimbo faz lembrar um pouco o clima em S.Miguel, o céu muito nublado e cinzento, com o sol a espreitar de vez em quando. Dura apenas 3 meses, Maio a Agosto, que é quando Portugal rouba o sol aqui no hemisfério sul.

A monotonia vai ao extremo de não mudar a hora. É sempre igual! Até o tempo é monótono. Agora é a mesma hora que em Portugal, e no inverno é uma hora a mais. O sol nasce às 6h e põe-se às 6h sempre, não falha!

Poderão os mais abertos ao mundo da moda (desminto categoricamente que o recurso ao termo aberto tenha o intuito de fazer humor com os homens que habitam no mundo da moda), pensar que esta é também monótona em Angola. Mas não!
Com o fim do verão em Maio, assisti no telejornal local à abertura da época cacimbo/cacimbo (não varia sentido aplicar o termo outono/inverno), com as camisa de manga inteira, saias até ao joelho (mas nada de meias de vidro, porque fica muito quente) e os mais diversos acessórios indispensáveis para ultrapassar o frio.

Não é de todo estranho vermos na rua alguém de t-shirt e cachecol ao pescoço durante o dia, sendo que à noite já há quem se socorra de umas boas luvas de lã!
Não vá terem uma hipotermia com os 23º nocturnos que se fazem sentir!
E assim se quebra a monotonia.
Ela pensa que está frio? Nunca esteve em Luanda no cacimbo...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ilha do Mossulo

Definição de ilha que aprendi ainda estava eu na primária, por entre tabuadas e rios de Portugal:

"É uma porção de terra rodeada por mar em todos os lados."

O que não sabia é que a minha professora estava a enganar-nos a todos, aproveitando-se da nossa inocência. Esta é a definição dela, porque aqui em Angola, uma ilha é uma porção de terra com água numa grande parte desta.
Mas isso não é uma península? Perguntam vocês.
Claro que não! Venham a Angola e vejam a ilha do Mussulo. E vejam lá se a quem é que tem razão.
"Ilha" do Mussulo.

Bem o certo é que só ao fim de 2 meses e meio aqui em Luanda, até tenho vergonha de o dizer, é que finalmente fui ao Mussulo!
Não este Mussulo, porque neste como sou pula já tentei e foi parado à porta. Fui a ao outro Mussulo, onde o que mais se vê são pulas cotas e com mania (alguns são mesmo) de que são ricos.

No dia anterior, o André tinha combinado com uns colegas de St André, encontrarmo-nos com eles lá no domingo de manhã. Como tínhamos saído no sábado, custou bastante acordar às 10h para nos pormos a caminho. Partimos apenas eu e o André, o Bruno não aguentou e ficou a dormir.

Uma manhã típica de cacimbo. Luanda ao longe sob névoa.

Ao aproximar do embarcadouro, já um controlador corre para nós, a indicar o caminho. Arranjou um barco para nós, e não foi um barco qualquer... Era um francês!
Entramos para o barco, depois de combinar o preço, que já subiu para os 5€ por pessoa e por viagem. O mestre Mané Cáfua cobrava bastante menos, e ainda controlava o leme com a anca...

A viagem demorou uns 5/10mins, porque o nosso destino era o Barsulo, que fica um pouco mais afastado do embarcadouro.
Umas casinhas de férias no meio da ilha.
O cacimbo tem dessas coisas, depois o tempo abre.


Zona do Barsulo, com umas espreguiçadeiras, que podem ser nossas por meros 7,5€. Uma pechincha.

Como a zona de praia do Barsulo fica virada para Luanda, fomos atravessar a língua de areia, perdão, a "ilha", para a costa atlântica. Este lado é muito mais sossegado, menos gente, mais espaço, melhores praias, e um mar mais porreiro.

A travessia.
Há pessoas que vivem por aqui, uns putos a brincar.

Um porco habitante, ou um habitante porco. Acho que nessa foto vemos os dois.


Ao chegarmos lá, só tinha um grupo de pessoas uns 500m mais ao lado, fora isso, ninguém. Excepto uns palhaços de moto quatro que passaram pelo areal. Parece que estas motas agora estão na moda por aqui, é só ver moto quatros pelas ruas de Luanda, e à venda no Belas Shoping.

Quilómetros de praia e areia só para nós.

Regressamos à base depois da banhoca, e completamente esfomeados. Dado termos decidido a viagem ao Mussulo assim meio às pressas, não tivemos tempo de preparar a marmita, e então tivemos que comer lá mesmo no Barsulo. Não vos aconselho a fazerem isso frequentemente, porque não é saudável para o vosso extracto bancário. Um prego e uma cola foram 21€! Mas a fome é que manda, e uma vez não são vezes.

Barsulo, onde um sumo natural custa 15€.

Ainda houve tempo para uns joguinhos de volei, 3 contra 3, numa renhida e disputadíssima exibição do mais alto nível de "beach volei", que encheriam o Maia e Brenha de vergonha. De serem da mesma terra que nós, obviamente.

Ao vim do dia, telefonamos ao gajo do barco para nos vir buscar, e lá apareceu ele, e foi rápido até. Pagamos novamente os 5€ para a viagem de regresso (há quem combine pagar ida e volta no fim do dia, para não correrem o risco de ele não aparecer). E lá seguimos viagem de regresso à confusão.
Mussulo a ficar para trás.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Histórias de trânsito

Na passada semana estávamos descansadamente rumo à praia de Santiago, no habitual pára-arranca, tão característico nesta pacata cidade, mesmo num fim-de-semana, quando numa manobra de todo nada estranha, um candongueiro sai da fila que se havia formado para a ultrapassar pela direita. Segue-lhe um jipe civil, não me recordo a marca, mas não era nenhum "chaço" velho.
Nisto os dois imobilizam-se assim do nada, aparentemente sem qualquer motivo, não nos pareceu haver nenhum toque.
Sai o condutor do táxi. Aproxima-se do jipe. Este abre a janela. Palavra puxa palavra. Ânimos exaltam-se. Candongueiro volta para a hiace. Pára. Regressa à janela do jipe. Dá uma bofetada no condutor através da janela. Dá meia volta. Pega num tubo que estava na berma da estrada. Regressa ao jipe. Mulher do táxi agarra-o.

Nós íamos nos aproximando devagarinho do local do acontecimento, para nosso deleito, ou não fossemos nós tugas, que parecem ter um particular fascínio por confusões alheias. E vejam só, aqui não precisávamos de abrandar ou imobilizar o carro para assistir à contenda. Sorte a nossa!

No que até aqui parecia ser uma situação típica do dia a dia das estradas lisboetas, com taxistas a envolverem-se em discussões com outros condutores, teria que obviamente ter uma pitada do perfume angolano.

O condutor do jipe, com a família no carro cheio, aspecto franzino e todo certinho, ao ver o candongueiro aproximar-se com o tubo, calmamente sai do seu veículo, dizendo ao outro moço:
"Eu já pedi desculpa."
Isto enquanto o condutor pacato sacava de uma catana e aproximava-se do candogueiro.

A cena passava-se mesmo ao lado do nosso jipe, e nós ali a assistir, faltavam só as pipocas e os óculos 3D.

O que se passou a seguir, do género, se algum braço ou cabeça foram ceifados, não vos sei dizer.
Porque a fila recomeçou a andar, e obviamente que eu também, simplesmente não queria que o gajo atrás de mim sacasse, ele também, da sua catana.
E lá seguimos nós no pára-arranca.

O melhor amigo do condutor.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Manual do Expatriado para Totós

Angola tem sido vista por muitos portugueses como o novo El Dorado, no entanto é preciso ver que isto aqui não é o país das maravilhas, já muitas empresas tentaram entrar aqui e deram-se mal, com prejuízos consideráveis. O mesmo se pode dizer relativamente a muitos trabalhadores, iludidos com o ordenado proposto (aí os dólares), e não fazendo contas aos gastos que aqui têm, acabam por ficar quase na mesma do que se trabalhassem em Portugal, só que estão longe.

Por isso, na sequência da brilhante e vasta colecção da Porto Editora "Para Totós", vou deixar-vos aqui algumas considerações minhas, que valem o que valem, mas sempre ajuda a perceber um pouco mais a realidade que aqui vão encontrar.

Dado aqui falar-se muito em dólares, quando se tratam de valores mais significativos, e porque $1200 usd são 900€, às vezes poderá dar a sensação de ser uma quantia muito maior, portanto vou falar sempre em Euros.

- Visto
O visto ordinário, permanência de 30 dias (renovável por mais 30), pode demorar um mês ou mais a consegui-lo, quanto ao de trabalho (válido por um ano), é necessário contrato de trabalho, e passados 2 meses de cá estar, ainda estamos à espera. Mas o processo sempre pode ser "agilizado".

- Viagens
Para Luanda só existem duas companhias com voos directos de Portugal, a TAP e a TAAG (através da South African Airlines, porque está impedida de voar para a Europa). Pode ir dos 1200€ até aos 2000€ , sendo que na TAP são mais caras. Não ter as viagens a Portugal pagas pode ser muito mau para o bolso.
Se fizermos 3 viagens num ano, são perto dos 4500€, o que equivale a 200€/mês aproximadamente.

- Estadia
As casas em Luanda atingem valores exorbitantes, quer na compra, quer no arrendamento. Ouve-se falar em valores que vão desde os 2000€/mês, por um cubículo T1, a 20.000€/mês, por uma casa com 3 ou 4 quartos. Certo é que ainda ontem, um local nos disse que pagava cerca de 200€/mês por uma casita fora da cidade, com boas condições... Agora, não sei é a localização nem as condições. Um branco não pode ir morar para qualquer sítio aqui em Luanda, disso não tenho dúvidas, e geralmente as casas, condomínios ou edifício, não é nada de estranhar terem um segurança à porta.
Para além dos custos, também não é fácil encontrar casas disponíveis, por isso se a vossa empresa não tratar da estadia, contem com um rombo no orçamento e uma carga de trabalhos.

- Condições da habitação

Faltas de electricidade e de água, são o dia a dia de muita gente aqui em Luanda. Por isso se não querem ficar privados de água para o banho durante 4 ou 5 dias, e ter a comida a descongelar ou a apodrecer no frigorífico, arranjem uma casa com gerador eléctrico, depósito de água e bomba. Obviamente que isso faz a diferença na hora da renda.
Isso, e a quantidade de espécies animais e de rastejantes com que irão co-habitar. Em edifícios mais antigos no centro de Luanda, esperem por um ou outro rato nas escadas e baratas, se entram ou não no apartamento, isso depende da vossa hospitalidade, e da vossa necessidade de fazer amigos novos, ou ter um animal de estimação exótico.
Aqui nesse ponto não me posso queixar, porque a empresa tratou de tudo, desde casa aos equipamentos.

- Alimentação
Fazendo uma alimentação típica de um trabalhador em Portugal, ou seja, almoçar fora, e jantar em casa, façam contas com um custo médio entre 12€ a 20€ por almoço num tasco (isso se não forem muito esquisitos nem membros da ASAE), fica em mais ou menos 300€/mês para almoços. Juntem mais uns 300€/mês para compras e refeições em casa, e alimentação pode ir até aos 600€ ou mais.
Façam contas ao que gastam em Portugal e multipliquem por 2, para terem uma ideia do que podem gastar.

- Carro
Os carros em Angola até que não são caros, mas não deixa de ser um investimento a fazer caso a empresa não inclua nas condições oferecidas. Além disso, têm um desgaste grande, devido às condições da estrada e distâncias. Ter A/C é 100% recomendável, visto que não vai querer andar de vidros abertos com o carro parado em filas, é sempre uma janela de oportunidade (belo trocadilho...) que se abre para os amigos do alheio.
A Gasolina aqui custa 40cts o litro, é barata. Atesta-se um depósito de 40lts por 16€. Não vai ser por aí que se fica pobre.
Eu diria que é obrigatório ter carro, os transportes públicos não são eficientes, nem muito utilizados pelos pulas.

- Carta de condução
Após termos visto de trabalho já podemos pedir carta angolana. Até lá, uma carta internacional (faz-se num qualquer Automóvel Clube de Portugal) dá para o gasto.
Já ouvi dizer que a carta portuguesa e válida por cá, mas não confirmo isso. Depois da história do Mantorras as coisas ficaram meio confusas por cá. E quanto menos brechas para gasosa dermos aos agentes da autoridade, maior terá de ser a capacidade de imaginação deles na hora. E sempre se pode apreciar as verdadeiras pérolas que dali saem.

- Staff
Aqui inclui-se empregada, segurança, motorista. Não recebem ordenados muito elevados, podendo andar à volta dos 300€/mês. O segurança geralmente é do condomínio, a empregada dá sempre jeito, e um motorista, só mesmo em último caso, se não se adaptar ao trânsito e ruas de Luanda, ou no início para as conhecer.

- Saúde
Aqui há hospitais públicos e clínicas com boas condições, só que são caros. Não tive ainda a necessidade de recorrer a esses serviços, por isso não sei se funcionam bem, ou quais os seus custos.
Só sei que o facto de não ver muitas ambulâncias, o trânsito difícil, a juntar ao facto de no número de emergência, o 113, ser frequente não sermos atendidos, deixa-me de pé atrás de como será numa situação de emergência médica.

- Padrões e exigência

É essencial para a nossa sanidade mental, e para conseguirmos sobreviver em Luanda por algum tempo, baixarmos os nossos padrões de exigência, de qualidade de serviço, de higiene, de nível de vida, e de serviços disponíveis.
Caso contrário dão literalmente em doidos se não conseguirem aderir ao lema "não há maka"!

- Ordenado
Com tudo isto, facilmente se percebe que aliciarem-nos com um cheque de 4000€ por mês, sem quaisquer das regalias acima mencionadas incluídas, não é uma boa proposta. Habitação (2000€), carro (200€), comida (600€), e viagens (200€) podem transformar-se num gasto mínimo de 3000€/mês. E temos sempre outros gastos, com fins-de-semana, artigos para a casa, roupa, saúde, e passa-tempos.
Façam contas ao ordenado, mais as condições oferecidas pela empresa, e acima de tudo, vejam lá se o que sobra no fim do mês, compensa o esforço e sacrifício de estar longe de casa e do que nos é querido.

- Impostos
Não sei ao certo como funcionam por cá. Se existe segurança social, ou como funciona. Posso apenas dizer quais são as condições que tenho. A empresa paga-me o ordenado em Portugal, desconta em Portugal para a Seg. Social (para anos de reforma), e paga uma espécie de IRS aqui em Angola, o IRT (Imposto sobre Rendimento de Trabalho), à taxa de 15%, que parece-me ser fixa, ao contrário do IRS.
Se num ano ficarmos menos de 180 dias em Portugal, podemos pedir uma mudança de residência fiscal para o estrangeiro, e assim fica-se isento de fazer IRS deste ano.



Se tiverem uma proposta para trabalhar em Angola, pensem bem nas condições oferecidas e aproveitem essa mensagem para fazer umas continhas rápidas.
Tenham bem conscientes quais são as motivações para vir para Luanda, se a experiência profissional e de vida em si, se é poupar uns trocos, ou se é viver uma vida mais desafogada.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Kwanzas

A moeda local de Angola é o kwanza, cujo símbolo monetário é o "kz", aqui nada de símbolos estranhos como os €, $ ou £, só letras. O nome da moeda deriva do rio Cuanza, que fica a sul de Luanda e é maior exclusivamente angolano, assim tipo o nosso Mondego.

A moeda surgiu em 1977 para substituir o escudo angolano, e desde aí já sofreu 3 "actualizações" para compensar o baixo valor que a moeda adquiriu com a inflação.
E sinceramente, acho que devia haver mais um processo de actualização desses, porque a o kwanza vale muito pouco face ao custo de vida em Angola.
Faltam as notas de 1kz.

Aqui não há moedas em circulação, já ouvi falar que elas existem, mas não circulam porque têm um valor muito baixo mesmo, em cêntimos.
E então o tal "cascalho" que ninguém gosta lá em Portugal, aquelas moedas irritantes castanhas que não valem nada, aqui não existem. Existem são em notas, que muitas vezes também já castanhas de tão sujas que são.

É com extrema facilidade que ficamos com um monte de notas no bolso, e nós já todos contentes porque temos muito dinheiro, habituados que estávamos aos Euros, mas chega a hora de pagar, e é um tal contar notas:
Monte de notas, total=100kz, equivale a 1 euro.

E facilmente chega-se à conclusão que não dá para pagar nem sequer um café... que por cá pode custar 1,50€.

Mas o que realmente me fascina é o facto de haver preços como 157,38kz, quando a nota mais pequena a circular é de 1,00kz (0,01€). E é frequente na hora do pagamentos, fazerem arredondamentos para valores múltiplos de 5kz, (0,05€).

O dinheiro aqui parece que tem uma volatilidade bastante superior a Portugal, talvez o facto de não haver aquela barreira psicológica do: moedas para coisas pequenas, e notas para grandes valores. Isso a juntar ao facto da maior nota de kwanzas valer 20€, facilmente se perde um pouco o controlo financeiro da carteira.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Malária

Tonturas, náuseas, vómitos, perda de apetite, fezes moles ou diarreia, dor abdominal, alterações do equilíbrio, dor de cabeça, fadiga, alterações do sono, pesadelos e sonolência. Em casos mais raros podem ocorrer alterações circulatórias (que podem levar a hiper ou hipotensão), vermelhidão da face, desmaios, palpitações, dificuldades respiratórias, suores, alterações digestivas, ritmo cardíaco irregular ou mais lento, prurido ou erupções cutâneas, queda de cabelo, distúrbios visuais e auditivas, dor no peito, zumbidos nos ouvidos, fraqueza, mal-estar, cansaço, febre, alterações motoras, deficiências sensoriais, tremores, retenção de água nos tecidos, dores e fraqueza muscular, cãibras, dores articulares, convulsões, e alterações psíquicas como apatia, depressão, esquecimentos, alucinações, agressividade, ataques de pânico, confusão, agitação, alterações de humor e estados de ansiedade.


Foram relatados casos raros de suicídio e tendências suicidas, mas não foi provada a sua ligação ao medicamento.



Não, não estou a descrever o método, que em alternativa ao de contar carneiro, os hipocondríacos utilizam para adormecer. Nada disso!


Esta meus amigos é a lista de efeito secundários (gosto particularmente do que está a negrito) que o medicamento anti-malárico, que nos foi receitado contém na sua bula. De seu nome Mephaquin.


É um comprimido simpático que se toma uma vez por semana, e protege contra a malária, mas no entanto os médicos avisam-nos que podemos apanhar a doença, mesmo tomando os ditos! Logo não garantem a sua eficácia.

Mas a lavagem cerebral que qualquer moço (ou moça) incauto leva na dita consulta do viajante, é de tal ordem eficaz, que acreditamos que é melhor arriscar apanhar algum, ou quem sabe vários, dos efeitos secundários daquela pequena listinha, tomando um comprimido que não garante uma protecção total, do que apanhar uma doença que tem cura, se tratada.


Todos os que para aqui vêm ao fim de umas semanas acabam por deixar de tomar. E nós não fomos excepção. É que os sacanas deixam mesmo um gajo mal disposto. Por exemplo o Bruno apanhava com cada moca, que até pensou começar a tomar os comprimidos diariamente!



Agora uma pequena acção formativa:


A malária, ou paludismo, é uma doença que se apanha através da picada da mosquita (sim fêmea, porque só elas é que picam), que apanhou de alguém quando andava na sua vida promiscua de picar uns e outros sem qualquer protecção.

Olha para ela!


O vírus fica incubado no organismo, e só se manifesta passados alguns dias, ou semanas.

Os sintomas são algo semelhantes ao da gripe. Dores musculares e de cabeça, fadiga, febres, mas distingue-se pelos calafrios e tremores, e pelo facto de serem sintomas cíclicos. Como entre ciclos o doente sente-se perfeitamente bem, torna-se perigoso, porque pode dar a ideia que já passou. A doença é mortal se não tratada!




Eu com isto não estou a defender que não se preocupem, e que não se protejam. Acho apenas, é que há outros métodos muito mais eficazes e inofensivos. No entanto, se for uma viagem curta, de 1 ou 2 semanas, poderá tomar os medicamentos. Isto porque no regresso a Portugal, caso tenha a doença, como os hospitais não estão habituados à doença, podem pensar que é só uma gripe, e não proporcionar o tratamento adequado. Tentem ir a um hospital de doenças tropicais.


O mais eficaz mesmo, é a prevenção!

Evitar andar na rua com o corpo muito exposto (menos as meninas) ao escurecer e no principio da noite, porque esta é a pior hora. Usar redes mosquiteiras na cama e janelas. E se suportarem o cheiro, repelente. Descarregar uma latinha de insecticida regularmente na casa, não faz mal a ninguém (só aos bichos).


Como nem mesmo assim, garantes a 100% que não apanhas paludismo, já sabes, ao primeiro espirro, é correr à clínica para fazer o teste da picada no dedo.


E vais ser picado! Todos são!



Lembre-se que os efeitos adversos podem ocorrer e durar várias semanas após a última dose.

Deve parar a profilaxia com Mephaquin e consultar um médico nos seguintes casos:

- se ocorrerem subitos estados de ansiedade, estados de depressão grave (depressão), agitação, ataques epilépticos ou confusão mental;

- se ocorrerem outros sintomas (por exemplo erupções cutâneas).

terça-feira, 2 de junho de 2009

"Titaniques Mwangolês"

Se há alguém no mundo que dá realmente valor às crianças, e que o exprime de uma forma ternurenta, é sem a menor dúvida o povo angolano. E como fazem isso? Ao seu melhor estilo!


Não trabalhando!


Sim, aqui não estão com coisas. Se as crianças são o melhor do mundo, tal como esses hipócritas apregoam lá na Europa e América, vamos dar-lhes um feriado! E acho muito bem.


Assim, com mais um fim-de-semana prologado, impunha-se a horrível tarefa de arranjar como ocupar os seus três longos dias de pura inactividade.


Sexta à noite, depois de uma sexta, partimos rumo ao ChillOut ouvir uma música, dar um pé de dança e beber um copito. Acordar no sábado, arrastar-me para a piscina e arrochar durante a tarde. À noite, como já vem sendo hábito, Miami e depois Jango.

No domingo, fomos para a ilha fazer uma praia e almoçar um bife à portuguesa no Tamariz. Diga-se que das coisas que mais tinha saudades era de comer um belo naco de carne, tenrinho! Valeu bem os 28€ que custava.

Tínhamos combinado ir para Malange, só que por motivos relacionados com dificuldades de contenção na flora intestinal de um colega nosso, tivemos que adiar. Nem mesmo com “A Rolha”, vulgo Imódium, ele foi lá.



Alternativa? Praia de Santiago.


Esta praia também conhecida como a praia dos barcos (ainda não consegui perceber o porquê…) fica num recanto pouco mais a norte de Luanda, depois do Cacuaco. Não é fácil de dar com ela, se não soubermos que existe, mais uma vez devido à total inexistência de sinalização.


A caminho da praia, um trilho TT puro.


Uma savana africana (se procurarem bem pelos leões, vão ver que os encontram)


Uma espécie de ponte, em terra sobre um rio. Não sei como isso aguenta.


Um passaroco voar ao lado do carro enquanto atravessamos a "ponte".


A maior parte dos locais aqui em Angola só são acessíveis com alguém que os conheça, se não, não existem pura e simplesmente. Este é o legado que tem que ser transmitido de pula para pula, os pequenos tesouros que Angola esconde.


A vista para a praia.


Uns "bungalow's".

E este é sem dúvida um deles. Inúmeros barcos naufragados povoam o areal desta praia, como gigantes adormecidos, que ali jazem, juntamente com caranguejos e angolanos no mar, que são felizes por momentos nas suas ondas.


Uns quantos navios naufragados ao fundo, e uns angolanos a brincar por perto.

Navio em mar revolto, com meio metro de profundidade.

Esta conjuntura torna este ambiente completamente surreal, acho que nem Dali num dos seus momentos mais alucinados, se lembraria de tal coisa.

A proa ergue-se imponente sobre quem passa.


Mais um barquito.


Separados para a eternidade (pelo mesmo mar que nos separa).

O Karl Marx! Velho, ultrapassado, acabado e decrépito, aqui jaz esquecido no tempo.
(Eu juro que isso não é uma piada política)

As entranhas do comunismo, desculpe, do pai dele.

Karl Marx a meter água.
(Ok, eu paro.)

Haviam dois grupo de angolanos em pontos separados na praia. Divertiam-se nesse feriado, sem preocupações.
As mulheres brincavam na água.

Enquanto isso, ali ao lado víamos os putos a exibir-se para as miúdas, fazendo toda a espécie de acrobacias, saltos e piruetas na areia, havendo até alguns que se aventuravam na capoeira.

Já esse de vermelho, bem sei qual a acrobacia que queria fazer...


Putos a jogar à bola, para eles o barco é como, se ali, sempre existisse.

No entanto o feriado era só para alguns. Há quem, que para eles, todos os dias são dias de trabalho.

A transporta água à cabeça.


A tratar do tacho para a família.

Depois do passeio na praia, chegou a hora do nosso tacho. Aqui tacho, diga-se, é meramente figurativo, porque para não sermos acusados de novos-ricos, despesistas, o almoço consistiu numas latas de atum enfiadas para dentro do pão. Claro que bem acompanhadas das belas das minis, trazidas na não menos bela geleira. Ou não fossemos nós tugas à maneira!

Faltava a manta e o garrafão.

Só para que não digam que são fotos retiradas da net, e tal, tiramos umas fotos ao pés dos barquitos, à laia de turistas. Óculos de sol, máquinas em punho, calções, boné e chinélos. Faltava mesmo uma t-shirt "I Love Luanda", mas não as encontramos ainda à vendo.

Miguel e Bruno prestes a ser abalroados pelo "Atlântico Sul".

Miguel, Bruno e André.

Antes de acabar esta mensagem, tenho que fazer uma breve nota de agradecimento, para quem tem sido neglegenciado durante a curta vida deste meu blog, e sem o qual nada disto seria possível:

O nosso fiel companheiro de viagens. O Jimmy cinzento!