quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Road Trip - Parte 3: Em busca da Conda perdida

O que é que 7 homens sozinhos, solteiros (uns mais do que outros), e bons rapazes, mais procuram, num fim-de-semana que se quer de loucura?

Algo relaxante, agradável, quente, que não está ao alcance de todos, e que não existe mapa, difícil de lá entrar, mas depois já ninguém quer sair...

Isso, estamos todos a pensar no mesmo! Na Conda.

Já nos tinham falado desta coisa, aliás, dois de nós até afirmaram já lá ter ido. E então decidimos conscientemente mudar os nossos planos.
Novo percurso.

O problema de grandes viagens de carro aqui em Angola, passa sempre pela logística. O combustível num carro que faz 350km com um depósito, é sempre uma dificuldade, quando temos bombas espaçadas de 200km, e há sempre o risco de lá chegarmos e estar sem gasolina. Mas o que é a vida sem um pouco de risco?

Então, lá seguimos caminho, à procura da Conda.

Sabíamos que havia bomba em Porto Amboim, e surgiram rumores não confirmados de haver em Cabo Ledo, que era mais perto, por isso como seria de esperar decidimos ir para ao mais distante!

Porto Amboim lá ao longe.

Porto Amboím é uma cidade, ou vila, não sei bem, ou sabia mas já não me lembro, também não interessa muito, porque já estou a divagar sem qualquer interesse para o blog e para quem está a ler, isto se estiver alguém a ler ainda, depois de ter-me desviado assim tanto do assunto, pequena e pitoresca à beira mar, ainda muito caracterizada pelo estilo colonial, com as avenidas largas com árvores, e construção típica.


Avenidas e população de Porto Amboím.

Como acontece sempre que mal se saí de Luanda, as pessoas são muito mais simpáticas, e não estão logo a tentar arranjar um esquema para te sacar uns kzs. São simpáticas só porque sim!
Falavam com os pulas, se damos gorjeta, agradecem e não refilam "Chefe! Só?", eu quero acreditar que essa é que é a Angola real, Luanda é um caso à parte.
Então, a fome apertava, tinhamos comido às 6h, e já eram 13h, por isso paramos num tasco com lugares disponíveis, à beira da praia, para comer um belo de um bife!

Esplanada do... digamos... restaurante.
(quem vê a foto, nem parece ser o tasco tipo roulote, com mesas de plástico em que almoçamos...)

Após um bom repasto, o que há de melhor do que ir para o sol, de barriga para cima, torrar, arrastarmo-nos até à água quente, a muito custo, refrescar, voltar para a toalha, para o sol, torrar, mas agora de barriga para baixo? Nada!


Nós passávamos completamente despercebidos na praia de papo para o ar...

A boa vida não dura para sempre, por isso tínhamos que nos fazer à estrada, e tratar dos preparativos essenciais para a viagem. Em primeiro lugar havia que arranjar maneira de atestar o depósito. Só que em Angola, surgem sempre imprevistos, corremos alguns locais e não havia cerveja...

O pânico instalou-se!

Então para acalmar as ideias, resolvemos ir tratar dos aspectos secundários, e fomos por gasolina nos carros.

Não havia cerveja fresca no mercado de rua! E agora??!?!

Acabamos por encontrar uma barracazinha que tinha cerveja fresca, e lá compramos para encher a arca. Assim, resolvido o nosso principal problema, arrancamos que já se fazia noite.

Não foi fácil, darmos com a saída para o nosso destino intermédio, antes de ir à Conda, que eram as poças de água quente da Tacota.
Para ir a Conda é preciso passar pela Tacota!
(esta foto foi tirada já na manhã do outro dia)

Vai daí, andamos meio à nora, e fomos perguntando aos locais, que apanhávamos a cair de bêbedo pela estrada deserta.
Diziam-nos que era no 27.
"27... já sei, é no quilómetro 27, não é?"
Mas não, aparentemente a localidade ficava no quilómetro 16!
Então porquê o nome 27? Vai-se lá saber... Fazer mais como?

Finalmente demos com uma picada que descia à direita na estrada alcatroada. Benzemo-nos e viramos rumo à escuridão. Após uns bons minutos a andar sem saber se estávamos no caminho certo, resolvemos acreditar que sim, porque os dois carros que nos seguiam pensavam que dominávamos a coisa. E se eles acreditavam, nós também tinhamos que fazer o mesmo.
Até que chegamos às chamadas Três Pontes. Ou melhor, Uma Espécie de Três Pontes...

Uma ponte com muito bom aspecto, no meio da picada, na floresta densa na montanha. Perigoso? Lá nada!

Ao lado da ponte...
Havia que confiar na Apacominas. Certamente um grupo de excelentes profissionais.

Na dúvida se avançávamos ou não, parámos para debater o que fazer, de forma consciente e responsável:
Enquanto isso, bebia-se cerveja, para não ficarem quentes.

Em frente! Decidiu-se.

Finalmente lá chegamos... Tacota!

Montar tendas, para alguns, ajeitar o banco do Jimmy, para outros (eu... ), começar o braseiro, e preparar o jantar. Andar na letra com o segurança. Tudo isto, e ainda deu tempo para ir tomar uma banhoca, enquanto a brasa não estava no ponto.

Água a mais de 40º...
(sim, bem mais quente que as poças das Furnas)

Até queimava quando se punha os pés, imaginem lá o resto... Sim isso mesmo... Mas havia que insistir e ser mais teimoso que a dor! Afinal de contas éramos sete gajos e não um bando de meninas! Passado uns minutos, já estávamos assim meios cozidos e não sentíamos mais nada.
Com a água até ao pescoço, quase que adormecíamos ali...

Até que acordamos para a vida, se ninguém se levantar, a comida não se grelha sozinha.

O chouriço grelhado e as pernas cozidas lá atrás.
(sim, estão vermelhas da água)

Uns canitos assistiam ao nosso churrasco. Com aspecto muito inofensivo. Mas...

...à meia noite revelaram-se... Os sacanas disparavam raios pelos olhos!

Ainda houve tempo para estarmos num cenário tipo Vietman:
Nós debaixo de uma palhota, com neblina densa ao redor, vegetação tipo bananeira, e começou a cair uma chuva miudinha, os sapos a coaxar, e uns passarocos quaisquer para lá a fazer uns barulhos.
Embalados pelo som da floresta, do cansaço da viagem, e da cerveja, achei que eram horas de ir para a minha cadeira do Jimmy.

Só vos digo uma coisa... Acho que nunca dormi tão bem como nessa noite.

Mas certamente é uma experiência a não repetir.
(a não ser que tenha como alternativa pagar 60 usd por uma tenda)

Sonhei com a Conda a noite toda. Estava ansioso...
Será que era tão bom como dizem?

2 comentários:

  1. José Calhaz dos Santos30 de maio de 2013 às 12:08

    Não será Tacota e sim Tocota. Agora já com acessos bem melhorados, pelo 27, ou através de Seles. A água, numa das vezes que lá "banhei" saía a 46º e no tanque estava a 44º.
    Abraço e votos de boas aventuras.

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